Nem o clube mais rico da América do Sul resistiu a um planejamento às avessas
Eliminado pelo Olimpia, Flamengo continua pagando o pato por ter mandado Dorival Jr embora.
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Foto: Wagner Meier/Getty Images. |
As noites de copa, que costumam ser tão generosas com o rubro-negro carioca, reservavam um destino amargo aos comandados do tão questionado Jorge Sampaoli. Questionado não só por ser técnico de um gigante do futebol mundial, mas também por ser o plano b dos dirigentes que demitiram um iluminado Dorival Jr., campeão da Copa do Brasil e da Libertadores em 2023, em função do frágil Vitor Pereira, que não durou nem por um semestre completo.
Precisando segurar o placar agregado de 1-0, construído no Maracanã, o Flamengo até saiu na frente - mas a vantagem foi rapidamente suprimida pela boa cabeçada de Torres, aos 12' de jogo. Gol do time que entendeu o peso do confronto, e que começava a descobrir o que deveria ser feito para triunfar rumo à próxima fase. Esse era apenas um prenúncio do que seria a tônica do jogo.
Claro que, além da atmosfera pra lá de hostil proporcionada pelos presentes no Defensores del Chaco, o Flamengo penou com a arbitragem confusa do colombiano Wilmar Roldan, que invertia faltas, truncava o jogo, não mantinha o critério e acabou mandando Sampaoli embora quase que de graça no segundo tempo. Muitos questionarão o fato do presidente da Conmebol ser sócio torcedor do Olimpia, da sede da organização estar a poucos metros do estádio, entre outras supostas tramoias que são externas às quatro linhas.
Mas a verdade é que o apático Flamengo parecia dessincronizado. Felipe Luís, um dos líderes do elenco, errava passes de maneira sucessiva. À medida em que as enfiadas e bolas longas de Arrascaeta não surtiam efeito, o descontrole ditava o esquema da equipe carioca. O decano, então, se aproveita mais uma vez da bola aérea: Matheus Cunha, como se calçasse caneleiras de gesso, pula atrasado e aceita a cabeçada do 'baixinho' Ortiz. As noites nunca foram tão longas no Defensores del Chaco quanto para o Flamengo nos últimos 21 minutos de partida. 2x1.
Acuado, inefetivo, estéril, chame como quiser. O ricaço Flamengo sentia a perna pesando, o ar indo embora, a visão turvando e o tempo ficando cada vez mais árido... é, não teve jeito: mais uma cabeçada, e mais um gol do Olimpia: Bruera, aos 35' do segundo tempo, deixava os paraguaios com nove dedos na próxima fase.
Um acovardado Flamengo, então, teria dez minutos mais acréscimos para tentar o golzinho milagroso que levaria o confronto para os pênaltis... e conseguiu, aos 46'. Bola alçada na área, confusão, passe de Ayrton Lucas, toque de Gabigol e finalização de Victor Hugo. Pena que não deu nem tempo de parir a euforia pelo gol, já que o bandeirinha foi rápido ao flagrar a posição irregular de Gabriel Barbosa. O Flamengo encolhe-se novamente, quase que como um tatu-bola sob ameaça, não vendo muito mais a se fazer além de se conformar. Fim de jogo em Asunción. Um tri-campeão avança. Outro, amarga mais um vexame no ano.
Ano esse que já estava marcado pelo tropeço no Mundial, pelo vice na Supercopa, pela derrota na Recopa, e pela humilhação imposta pelo rival Fluminense no Carioca. A quíntupla coroa de fracassos, que pode virar sêxtupla em caso de não-título da CdB, é a recompensa dada a uma diretoria midiática, cheia de vaidades, soberba e arrogância. Muito dinheiro e pouco planejamento. A impressão de muitos torcedores é de que as obras do acaso transformaram o destino do rubro-negro neste século. Como um veículo que ultrapassa na curva e, por sorte, não se esfarela no para-choque de um caminhão vindo na direção oposta.
O Olimpia agora enfrenta o Fluminense. Mais uma vez, decide no Defensores. Mais uma vez, outro carioca, o qual eliminou em 2013 e 2022. E, mais uma vez, o 'super Fla-Flu da Libertadores' é adiado por tempo indeterminado, como foi em 2008 e 2022. O Fluminense que, por sua vez, procura a redenção na Glória Eterna, pode ter um desfecho apoteótico, em uma possível final no Maracanã, para uma jornada das mais improváveis. Se não o dinheiro, que o planejamento dos dirigentes tricolores causem inveja nos rubro-negros, e assim siga a rivalidade, cada um com suas próprias peculiaridades.
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