Pavimentação da BR-319 facilitará escoamento de produções agrícolas

Produtores, que dependem da rodovia, enfrentam obstáculos para escoar alimentos regionais pelo difícil acesso terrestre.

Manaus – Através da iniciativa do Governo Federal em reconstruir a BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho, o Amazonas terá acesso por via terrestre para o restante do Brasil. Com a logística mais favorável, o comércio regional, a indústria local e o setor agrícola serão beneficiados, se tornando mais ágeis. Economistas e representantes do segmento rural ressaltam que a reestruturação da estrada irá auxiliar no escoamento das produções das propriedades rurais.

Para os agricultores, depender da BR-319 para escoar produtos ainda é o maior obstáculo para expandir os negócios. O produtor Jurandi Ribeiro, 61, por exemplo, aprendeu o ofício com o pai quando criança, sem nem lembrar a idade que iniciou sua história e amizade com as sementes e a terra. Morador do quilômetro 104, a 88 quilômetros de Humaitá, no Amazonas, ele já produziu uma grande variedade de alimentos, como cacau, macaxeira, banana, açaí, entre outros.

Atualmente, com quatro alqueires de terra, Ribeiro divide o espaço entre a plantação de banana e os mil pés de açaí. Sem transporte, antes da pandemia, o produtor levava sua mercadoria no ônibus, que passa em frente à sua propriedade, para vender em Humaitá. Diante das dificuldades no trajeto, ele prevê grandes benefícios com a reconstrução da estrada.

“Aqui é muito difícil, porque nós plantamos, mas temos dificuldade de vender. Esse trecho é ruim, lama, com pouca movimentação por conta da situação que se encontra. Eu não vejo a hora de ficar pronta para expandir os negócios e, inclusive, vender para quem passa por aqui e quer um açaí puro, nativo da região”, comenta o produtor.



Outro desejoso de ver a pavimentação da rodovia acontecer é o produtor Robson Oliveira, 35. Ativo no ramo desde os 15 anos, ele aprendeu a função com o pai. Depois de anos trabalhando diretamente com a produção, hoje ele possui uma pequena fábrica de açaí no quilômetro 114, no município de Castanho. Ao comprar o fruto de produtores do interior do estado, Oliveira leva sua mercadoria para a fábrica afim de produzir o vinho e a polpa.

Em média, ele chega a vender 1,5 milhão de litros de açaí por ano para Manaus, Manaquiri, Autazes e também para o município de Castanho e arredores. Como a maior parte da mercadoria é transportada por acesso fluvial, a balsa demora 18 horas para chegar na capital amazonense. Em sua caminhonete, Oliveira consegue levar até 1.200 quilogramas em uma viagem de duas horas para percorrer os 327 quilômetros, quando a estrada não está encharcada pelas chuvas.

Para a gerente do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), Gisely Melo, a dificuldade de transportar os produtos é real e uma das maiores barreiras para a ampliação dos negócios agrícolas na região e em outras dependentes da rodovia. “Alguns possuem meios próprios, mais a maioria não, então é muito comum a produção estragar na área por não ter como escoar”, lamenta.

Segundo ela, o Idam atende cerca de 300 agricultores na região. Com essa limitação pela decadência da estrada, principalmente no período chuvoso, até a assistência técnica do instituto enfrenta obstáculos para chegar até o produtor, saindo de Humaitá até os ramais próximos.


Divisor de águas

Segundo o economista Ailson Rezende, a pavimentação da BR-319 será um divisor de águas para aumentar as possibilidades e trazer um retorno econômico para o estado. Ele afirma que, sem essa revitalização, os resultados serão os mesmos colhidos atualmente, como a baixa produtividade, perda dos produtos e elevados custos de produção.

“Os benefícios são para as comunidades agrícolas, que terão como escoar seus produtos, gerando renda para se manterem e beneficiando a população de Manaus, que receberá produtos agrícolas e pecuários mais baratos”, explica Rezende.

Com seus 885 quilômetros de extensão, Rezende ressalta que a rodovia é responsável por impactos sociais e econômicos em treze municípios, que são Autazes, Beruri, Borba, Canutama, Careiro, Careiro da Várzea, Manaquiri, Manicoré, Lábrea, Humaitá, Tapauá, além de Manaus e Porto Velho.

Assim como os produtores da matéria – Ribeiro e Oliveira – o economista relembra que vários trabalhadores rurais ficam isolados, ainda mais no período de chuva, impedidos de comercializarem seus produtos devido as condições precárias da estrada. Quando fazem o percurso via fluvial, ainda assumem as despesas para levar ao porto e até chegar ao destino final. “Com a recuperação da rodovia, os produtores dessa região podem trazer, via rodoviária, os alimentos para abastecer Manaus”, observa.

De acordo com o secretário Estadual de Produção Rural (Sepror), Petrucio Magalhães Júnior, a pavimentação da BR-319 é uma questão de integração nacional e desenvolvimento regional. “Com a conclusão da obra, teremos redução de custos nos insumos agropecuários e maior intercâmbio regional, que favorecerá o desenvolvimento de novas matrizes econômicas, como a bioeconomia, piscicultura, produção de grãos, fruticultura e pecuária sustentável. Destaco que tudo isso seja perfeitamente conciliável com o nosso meio ambiente”, afirma.

Magalhães Júnior ainda acrescenta que a reconstrução trará um destaque positivo para os produtores regionais, mesmo com a concorrência de produtos importados da região Centro-Oeste do país, pois haverá uma redução de custo dos insumos agrícolas que chegam em Manaus, com melhores condições de trabalho e competitividade.

“Naturalmente teremos também a necessidade de investir em novas tecnologias de produção para sermos eficientes e competitivos, mas acredito muito na força de vontade do nosso produtor rural. Ao darmos condições a eles, garantiremos novos empregos e melhoraremos a renda do homem do interior”, complementa o secretário.


Riqueza x pobreza

Recentemente, ao sofrer com o colapso na Saúde - por conta da Covid-19 -  o Amazonas enfrentou grandes dificuldades logísticas para receber o oxigênio doado pelo Governo Federal, evidenciando, mais uma vez, como o estado perde por estar isolado. “As carretas que trouxeram oxigênio de Porto Velho para Manaus levaram cerca de três dias para chegar, que em uma via devidamente asfaltada levaria cerca de 12 horas”, relembra Magalhães Júnior.

Mesmo diante da riqueza natural e dos tesouros que a terra possui, o economista Sostenes Cruz revela que existem dois lados da moeda. “Eu sempre vou dizer que somos ricos e pobres ao mesmo tempo. Ricos porque temos preciosidades diversas, mas pobres porque não sabemos aproveitar. Espera-se assim que o Governo Estadual e Federal cumpram as suas promessas de incentivarem os produtores da BR-319, para facilitar a vida de quem vive ao longo da estrada”, ressalta.

Conforme o economista, a pavimentação da rodovia Manaus-Porto Velho incentivará o produtor regional a ir adiante com o plantio de melancia, soja, cacau, banana, hortaliças, açaí e ainda levar ânimo para expandir as vendas para outras regiões.


Retorno para o produtor e estado

Por meio da assessoria, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Região Metropolitana de Manaus (Seinfra) esclarece que a retomada das obras na BR-319 é a concretização de um sonho da população amazonense. Além do benefício para os produtores, o retorno será notável também para o estado.

“Além do desenvolvimento socioeconômico do estado, devido ao escoamento da produção agrícola das propriedades rurais - graças a um tráfego rápido e seguro - a rodovia também proporcionará melhorias na acessibilidade dos transeuntes a outros estados brasileiros, incentivando também o turismo no Amazonas”, salienta.

O economista Wallace Meirelles salienta que, por conta dessa logística, falta a produção agrícola ganhar mais força para contribuir com o Produto Interno Bruto (PIB) do estado. De acordo com ele, o setor primário tem uma contribuição pequena, em torno de 6%, mas que pode aumentar rapidamente com a reconstrução da estrada. "A construção tem relevância e pode ajudar com muita eficiência o setor primário no Amazonas", completa.


Fonte: https://d.emtempo.com.br/

Foto: Arquivo Em Tempo

Foto: Ueslei Marcelino, Reuters

Foto: Arthur Castro, Secon


 

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.